Tive uma gestação tranquila e maravilhosa, me senti bem do início ao fim. Estava sempre disposta e ativa. Durante a gravidez, busquei muita informação sobre parto, pós-parto, amamentação e tudo mais sobre o universo do maternar. Para mim, a ideia de uma cesárea era muito difícil de aceitar.
A médica que realizou o meu pré-natal era a que atendia no meu convênio médico, não pagamos pela disponibilidade dela, então nosso filho nasceria com a ajuda do médico que estivesse de plantão no dia.
Aos sete meses de gestação conhecemos um casal de médicos que também douravam e esperavam seu primeiro filho. Tivemos uma grande troca de informações e nos sentimos ainda mais confiantes em tudo o que acreditávamos com relação ao parto normal.
Quando completei 39 semanas, porém, a obstetra do pré-natal me falou sobre a possibilidade de cesárea agendada. Eu disse que não aceitaria e estava disposta a induzir o parto normal.
Cheguei às 40 semanas e nada. A pressão de todos os lados aumentou, passei a ouvir histórias trágicas sobre parto e me senti bem ansiosa, mas seguia confiante pois eu tinha informação. Começamos a acompanhar com ecografia a cada três dias para verificar sinais vitais, presença de mecônio, e tudo caminhava muito bem.
Completei 41 semanas e nossa obstetra falou em esperar mais cinco dias. Às 41s3d, entrei em trabalho de parto espontâneo. Como planejei, passei a maior parte do dia e das contrações em casa. Tomei banhos demorados, me alimentei normalmente, me despedi da barriga - um dia memorável. Até que, quando as contrações começaram a acontecer com um intervalos de três minutos ou menos, fomos para o hospital.
O primeiro médico que me atendeu pediu internação com urgência. Pela avaliação das contrações o bebê já estava em vias de nascer. Porém, ao fazer o toque ele constatou 2 cm de dilatação. Entrei na sala de parto e continuei caminhando, usando a bola de pilates e tudo o mais.
Quando houve a troca de plantão, o próximo médico já entrou na sala me dizendo que iríamos para a cesárea. Não aceitamos. Duas horas depois ele voltou e me disse que eu não tinha bom senso e que nosso filho não ia nascer. Entrei em pânico. Eu tinha medo da cirurgia, medo da anestesia, medo de não amamentar, medo de ele ter razão. Acabei não mais confiando no meu corpo, no meu processo, mesmo tudo caminhando bem, evoluindo. Concordei com ele.
A enfermeira que me atendeu na sala de cirurgia estourou as veias dos meus dois braços e das minhas duas mãos, pois não tinha paciência de esperar as contrações passarem. Até que o anestesista chegou, disse à enfermeira que ele mesmo colocaria o acesso, me acalmou e, em seguida, aplicou a anestesia.
Meu filho nasceu menos de cinco minutos depois, como em uma linha de produção. E eu entendi tudo. Levaram-no para uma sala para realizar um monte de procedimentos dos quais nada me explicaram. Depois, o trouxeram para mim e eu pude olhá-lo por menos de 30 segundos.
Terminaram a cesárea e eu fui levada para uma sala para “descansar” até passar o efeito da anestesia. Comecei a ouvir um choro bem estridente de bebê e não quis acreditar que era meu filho chorando, como se suplicasse por colo. Uma enfermeira veio e colocou minha maca no corredor, sem mal me olhar. Perguntei onde estavam meu marido e meu filho e ela me respondeu: seu marido foi liberar o apartamento e seu filho é este que está chorando.
Meu mundo desabou e comecei a chorar também. A enfermeira acabou trazendo o meu bebê, colocando-o em minhas pernas anestesiadas. Eu não podia segurá-lo. Horas mais tarde fui para o quarto, tomei um banho e nunca mais vi o médico que fez a cirurgia. Durante os três dias de hospital, todos que entravam no quarto se admiravam por termos esperado tantas horas para a cirurgia.
O puerpério foi a fase mais triste da minha vida. Durante o primeiro mês eu chorei todos os dias. De tristeza por ter feito a cesárea, de dor, de solidão, de impotência. Quando cheguei à minha casa e não consegui me abaixar para pegar algo em uma gaveta aquilo acabou comigo, por conta do parto que eu não queria, eu não conseguia nem escolher sozinha a roupa do meu filho.
Eu não deixava ninguém tirar ele da minha vista, não deixava pegarem ele no colo, não aceitava ajuda, exceto da minha mãe e do meu marido. Tinha muito ciúmes do meu bebê, acredito que por consequência do parto. Levei meses para melhorar essa questão.
Que bom que o tempo passa e acalma nosso coração.
Acredito que a mulher deve ser respeitada, que a vontade dos pais deve ser respeitada. Todo parto pode ser lindo e humanizado, independente das vias.
Os pais devem buscar informação e não acreditar e aceitar em tudo que um médico lhes fala. A mulher deve acreditar na sua força e no seu corpo.
Uma das médicas que foi me ver no dia seguinte ao parto, quando entrou no meu quarto, disse que sentiu algo diferente, e quando olhou nosso Alexandre disse que ele mudaria o mundo. Não sei se ele irá mudar o mundo, mas o meu mundo ele já mudou.
Ao me colocar no lugar dessa mãe sinto meu coração doer! O parto é o divisor de águas, é o início de uma nova vida, é o momento que esperamos por tantos meses, é o nascimento e o renascimento! Incrível e triste a falta completa de empatia e amor ao próximo! Precisamos falar mais sobre humanização, sobre respeito, sobre amor!