Chega a ser ingênuo a gente acreditar que vai parir um ser humano inteirinho e continuar a ser a mesmíssima pessoa de antes.
Que vai passar por esse turbilhão de transformações e sair inteira, pelas ruas da indiferença, assobiando melodias tranquilas, como se nada tivesse acontecido.
E pense no desperdício que seria um troço desses.
Você passar por tudo que passou, todas as dores, alegrias, dúvidas, medos, noites em claro e um amor que ocupa até buraco do dente - tudo isso para sair do outro lado do portal do mesmo jeito como entrou?
Não faria o menor sentido.
A maternidade pode ser mesmo incrível, mas ela arranca pedaços da gente. Daí, aos poucos, se a gente se esforçar para isso, é possível voltar a ser inteira.
Não aquela inteireza dos indiferentes, dos medrosos, dos que nunca se deixaram quebrar.
Falo aqui da inteireza reconstruída. Da inteireza que, corajosamente, cria e recria pedaços de si.
A inteireza que se permite renascer mosaico.
A vida quando traz um filho quer da gente uma decisão: em quem a gente vai se transformar depois de atravessar esse portal?
Essa resposta só chega quando a gente finalmente descobre tudo aquilo de que precisa para se sentir inteira.
É preciso ficar atenta aos pequenos sinais do cotidiano, que tentam nos avisar, o tempo todo, que tá faltando pedaço da gente.
Esses sinais são muito claros: a gente perde a paciência, grita, bate a porta, gasta dinheiro, come para se alegrar, bebe para anestesiar, entristece, foge, nega, fecha os olhos.
A gente se irrita com o outro, mas nem é o outro. É só a gente que não tá inteira.
Da próxima vez que você se pegar exausta, incapaz e soterrada; amplificando problemas e diminuindo conquistas; ou procurando respostas do lado de fora, olhe pra dentro.
Que pedaço seu está faltando?
Gostaria de receber mais conteúdos como esse por email? Clique aqui e se inscreva na nossa newsletter.
Deixe um comentário