Construção da relação entre irmãos: como um olhar de curiosidade pode trazer mais leveza.

Construção da relação entre irmãos: como um olhar de curiosidade pode trazer mais leveza.

A construção da relação entre irmãos acontece mais tranquilamente quando aceitamos as dificuldades que virão nessa construção e quando nos abrimos em curiosidade para lidar com elas.

Nós, seres humanos que habitamos esse espaço em comum chamado Terra, somos seres que precisamos muito de constância e de previsibilidade. Isso quer dizer que, ao mesmo tempo em que sonhamos, desejamos e planejamos, sentimos muita insegurança, medo e angústia quanto ao que não podemos controlar ou ao que ainda não se concretizou.

Um bebezinho na barriga (ou nos esperando fora da barriga) é um desejo ainda não totalmente concretizado. Sim, sabemos que ele está lá, podemos visualizar seu rosto no ultrassom, podemos até conversar com ele — ele lá, nós aqui —, mas essa criança ainda não está inserida na nossa família, não está aninhada no nosso colo, não podemos ainda sentir seu cheiro, seu calor, analisar as expressões do seu rosto enquanto dorme...

As expectativas que acompanham esse momento de espera são recheadas do que a nossa cultura nos conta e nos traz muitas vezes um discurso romântico de amor fraternal. Nossa expectativa é que os irmãos se amem logo de cara, que não exista nada além de amor, e que esse amor torne tudo muito fácil. E se formos analisar com muita honestidade, é assim que esperamos que aconteça conosco também.

Eu preciso lhe contar: nenhuma relação contém só amor e o amor pode facilitar muita coisa, mas não desenrola tudo. Toda a gama de emoções e de ambiguidades será sentida, quando falamos de relações familiares. Você provavelmente sente insegurança e preocupação sobre como será a nova dinâmica familiar, ao mesmo tempo em que espera ansiosamente por começar essa nova dinâmica.

Você provavelmente sente estranhamento sobre aquele novo serzinho, ao mesmo tempo em que sente a semente do amor germinar em você. Pode sentir tristeza antecipada por todas as mudanças que vão acontecer dentro e fora de você, ao mesmo tempo que sente muita alegria por tudo. E essa ambivalência não acontece só conosco, acontece também com a criança que será promovida à mais velha.

E para ela pode ser ainda mais difícil, porque ela ainda não consegue imaginar com clareza como será o rosto do tão esperado bebê, sua nova rotina, sua nova vidinha. É uma pequena-grande caixinha de surpresas. Nossa sociedade é bastante emocionofóbica, as pessoas foram ensinadas a temer e a reprimir suas emoções, a camuflar suas controvérsias.

Eu quero lhe dizer: permita-se aceitar e sentir tudo que vier em sua crueza e plenitude, assim será um pouco menos complexo aceitar toda crueza e plenitude das emoções da criança mais velha, quando a mais nova chegar.
A construção da relação acontece mais tranquilamente quando aceitamos as dificuldades que virão nessa construção e quando nos abrimos em curiosidade para lidar com elas.

A curiosidade é muito, muito bem-vinda desde sempre, porque nos ajuda a passar pela adaptação toda com mais abertura emocional. Costumo dizer que a curiosidade é a irmã terapeutizada da preocupação. Se conseguimos dar espaço pra ela, fica um pouco mais leve a espera e tiramos um pouco do nosso ombro as expectativas irreais de família de comercial de margarina.

Terá amor e confusão, terá choro e riso, terá calma e caos, tudo junto e misturado. E que bonita a vida poderá ser, justamente pela honestidade de tudo isso.  Desejo uma boa hora (de parto ou de encontro) pra família toda.

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Texto: Thais Basile

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