O que há de tão ruim nas escolhas? Como adultos, como consumidores e como uma sociedade que valoriza a individualidade, amamos a noção de opção e escolha. E adoramos dar a oportunidade das opções aos nossos filhos, como os presentes, sobre tudo aquilo que eles veem, querem ou fazem; sobre todos os aspectos de suas vidas. Acreditamos que esse poder de escolha os ajuda no caminho para se tornarem quem são. Achamos que ter opções ajuda a moldar a personalidade de uma criança, seu senso de si mesma.
Mas eu acredito firmemente que o oposto é verdadeiro. Tantas opções são distrações do crescimento natural e exponencial da primeira infância. Deixe-me dizer de outra forma: as crianças pequenas são muito ocupadas. A evolução nos primeiros dez anos de vida — neural, social e física — faz com que nossas atividades enquanto adultos pareçam uma calmaria.
As crianças precisam de tempo para se tornar elas mesmas, através do brincar e da interação social. Se você sobrecarregar uma criança com coisas — com opções e pseudoescolhas — antes que ela esteja pronta, ela conhecerá apenas uma reação emocional: “Mais!”.
Carl Jung disse que as crianças não distinguem entre ritual e realidade. No mundo da infância, os brinquedos são objetos-rituais com poderoso significado e ressonância. Para uma criança, uma montanha de brinquedos é mais do que algo em que tropeçar. É um mapa topográfico de sua visão emergente do mundo. A montanha, de maneira simbólica, significa: “Posso escolher este brinquedo, ou aquele, ou este caminho até aqui, ou aquele: é tudo meu! Mas há tantas opções, e nada disso tem valor. Eu quero outra coisa!”. Essa visão de mundo também molda a condição emocional; as crianças que recebem tantas opções aprendem a desvalorizar todas e a insistir em algo que ainda não foi oferecido. “Quero outro!”. Os sentimentos de poder, por terem tanta autoridade e tantas opções, mascaram uma sensação maior de vulnerabilidade.
Nós somos os adultos na vida dos nossos filhos. Nós somos os adultos.
E, como pais que os amam, podemos ajudá-los limitando opções e escolhas. Podemos expandir e proteger a infância não os sobrecarregando com as pseudoescolhas e o falso poder de tantas coisas. E mesmo que empresas gastem bilhões tentando influenciar nossos filhos, podemos dizer não. Podemos dizer não à permissividade e à sobrecarga, dizendo sim à simplificação.
Trecho retirado do livro Criação com Simplicidade, dos autores Kim John Payne & Lisa M. Ross.
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