Trinta segundos de coragem insana.

Trinta segundos de coragem insana.

Quando planejamos uma mudança, seja ela qual for, de trabalho, de estilo de vida, de casa, cabelo, bigode, profissão, pensamos, pesquisamos, avaliamos as consequências. Ponderar faz parte da vida adulta. Se preocupar uma, duas, três vezes, tem seus benefícios. Depois disso já é perda de tempo. Aliás, a galera experiente em poder da mente, meditação, budistas e toda essa turma mais zen, acredita que, quando nos preocupamos duas vezes, com o mesmo evento, já é energia desperdiçada e “pré-ocupação” inútil.

Eu, mera mortal, não estou nesse nível de evolução espiritual e por isso dou outro nome a essa teoria. Gosto de chamá-la, carinhosamente, de trinta segundos de coragem insana. Funciona assim: eu penso, avalio os riscos, meço a quantidade de vida versus dores de cabeça, reúno toda a coragem que há em mim e me lanço!


Tudo o que precisamos é o pontapé inicial. Trinta segundos, de total, absoluta, insana coragem, é o necessário para virar o leme da sua vida. Uma vez que é dado o primeiro passo, os outros acontecem no embalo. Você só precisa de trinta segundos para mover o rosto em direção ao beijo, o beijo em si desenrola sozinho. Trinta segundos de coragem para comprar a passagem, a viagem vem como resultado. Trinta segundos para se matricular no curso, já as aulas e como fará para frequentá-las, dá-se um jeito. Trinta segundos para fazer a ligação, como irá falar? Vai improvisar na hora porque não tem mais volta. São apenas trinta segundos. E vamos combinar, você consegue tudo por trinta segundos!

Antes que você me chame de sonhadora inconsequente, não estou aqui dizendo que tudo é maravilhoso, como se a vida se tornasse um daqueles quadros de mar turquesa e areia branca que não gruda no pé. Não é bem assim. Os trinta segundos de coragem insana te colocam em várias situações “puta que pariu que moda foi essa que eu inventei”. Dá vontade de se autoestapear, rola choro, arrependimento, consequências não tão bacanas, cagadas épicas. Porém, até quando dá errado, conseguimos tirar meia dúzia de coisas boas. O fundo do poço tem o poder de ensinar lições que o topo da montanha jamais conseguiria. Você ganha força e inspira muita gente. Seus tombos e a forma como você lida com eles, motivam. Superação é admirável. O seu exemplo pode vir a ser o guia de sobrevivência de alguém. Ah, e claro, sempre haverá uma patotinha para dizer: “Afe que irresponsável! Também, ela tá pensando o que da vida?” Mas, não se iluda, as mesmas pessoas que te apontam o dedo quando você está na merda, ao cruzarem contigo em um momento de reerguida, comentam: “Essa aí é sortuda que só vendo, ô vidão dessa garota!” É fato: falar as pessoas sempre falam.

Os trinta segundos de coragem insana trazem surpresas incríveis. Você constrói memórias que podem render livros e mais livros de “causos” e trechos. São tantas aventuras, histórias com potencial para novas propagandas de cerveja, documentários alternativos e longas metragens. É muita vida que acontece quando a gente se joga. São risadas, mancadas, descobertas, roubadas, pessoas pelo caminho, caminho… é isso! Tem tanto caminho novo, atalho, trilha, subida, descida, “skibunda”. Caminhos que te convidam a mudar o olhar, a mente, as ideias. Caminhos que te colocam cara a cara com novas chances, para enxergar ângulos que você jamais enxergaria se estivesse na mesmice. Coisas que dinheiro e uma vida “estável”, apesar de excelentes, não compram e não trazem.

As melhores lembranças que tenho, até hoje, foram dádivas dos trinta segundos de coragem insana. Foi assim que me divorciei de um casamento infeliz, aos vinte e dois, poucos meses depois de enterrar pai e mãe. Foi assim que mudei de país com mala, cuia e filho, aos vinte e três. Foi assim que fiz viagens de última hora, que passei de nutricionista para tradutora, auxiliar de enfermagem, gerente de atendimento ao consumidor, empresária, até me encontrar como escritora. Foi assim que me enfiei com três crianças, marido e cachorro em um motorhome e que viajamos por trinta e cinco estados norte-americanos, por mais de sete meses. Foi assim que lancei livros independentes, por minha conta e risco, que mudei de endereço, dez vezes em dez anos, que tive quatro filhos. É só assim que consigo viver.

A verdade é que não adianta esperar pelo dia em que se estará pronta: “venham novas aventuras, vitórias e desafios, eu estou pronta.” Esse dia custa a chegar, isso quando ele chega. Ao invés, pense uma vez, reflita uma vez, tome a decisão, feche o olho e vá: “Estou aqui, novas aventuras, vitórias e desafios! Vamos nessa porque vocês farão com que eu me apronte no caminho.”

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