Parabéns, você acaba de adquirir um lindo exemplar humano. Leia as instruções com atenção e lembre-se: não efetuamos troca.
Proteja-os de pesticidas, objetos cortantes, plástico, praga, comida pronta, eletrônicos, tomada, mosquito, onda, quina e salsicha.
Ofereça: cinco frutas, quatro verduras, três grupos alimentares, dois idiomas e um irmão (de preferência do sexo oposto).
Certifique-se de que as necessidades acadêmicas, físicas, psicológicas, espirituais, mentais, nutricionais e sociais estejam sendo constantemente atendidas. Lembre-se de que tudo o que você fizer de errado vai resultar em um exemplar adulto violento, frustrado, dependente, desempregado e que começa a comer coxinha pelo lado errado.
(Todo mundo sabe que o certo é começar a comer a coxinha pela ponta.)
Promova: a autoestima, a resiliência, a independência, a autonomia, a consciência de classe e um currículo que inclua hortas orgânicas, meditação e empreendedorismo infantil.
Leia: bulas, manuais, tabelas nutricionais, livros de autoajuda, posts do Instagram e discussões em grupos de desmame, sono, comunicação não violenta e escolas construtivistas.
Seja uma mãe gentil, porém firme. Firme, porém flexível. Empreendedora, porém dedicada. Dedicada, porém bem-sucedida. Seja integral, mas não muito. Apegada, mas com vida própria. Independente, mas com muito apego. Insone, mas bem-disposta.
De resto é supersimples. Boa sorte!
Realidade: Mesmo que nesta semana você prepare catorze refeições equilibradas, lave quarenta e seis quilos de roupa, ame, abrace, cuide, alimente, ensine, leve, busque, traga, limpe, vista, ensine geografia e o teorema de Pitágoras, ainda assim você não vai gabaritar a cartilha da parentalidade perfeita.
A realidade é que é impraticável seguir tudo isso em 100% do tempo. Quem disser que isso é possível, das duas uma: ou não tem filho ou não tem realidade.
Desejo a todas nós uma maternidade sem manual nem cartilha, repleta de recomeços, abraços infinitos, cócegas, cafungadas, bicicleta, banho de chuva, guerra de travesseiro e bolo de chocolate.
Que a gente se lembre sempre de que o essencial é simples, a infância curta e a vida rara.
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